terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Aleatorismo

Outro dia acordei cantarolando. O sol brilhava mais forte, mas isso não incomodava meu astigmatismo - ou minha hipermetropia. Engraçado... alguns meses atras,eu acordaria e violentaria verbalmente toda aquela luminescencia desnecessária. Fora o acesso de cólera contra o calor estúpido, que beirava o inferno em temperatura... Mas não. Acordei cantarolando e, após compreender o fato, ri de mim mesmo. E o melhor, não me senti inferior por ser risível...

Incrivel a demonstração de força do afeto. A transfiguração da pedra, do amargo, da insensível falta de tato, em uma rosa doce e aveludada. Nada mais de obscuro, nada mais avermelhadamente calorento - a não ser uma específica fusão de corpos. Nada mais incômodo ou aversivo... Nada mais desesperadamente subversivo, acabaram os rompantes de violência, os suicidios homeopáticos (em parte), a fugacidade frágil do embreagado orgasmo completamente livre de sensibilidades...

Ri, por que percebi que foi a presença de outrem que me despertou isso. Poderia ter giló com quiabo pro almoço, que cada garfada seria degustada com a ânsia da ultima refeição de um condenado. Não cantarolei mais, por julgar que seria forçoso. Seria apenas para manter o contínuo ritmo da canção, outrora interrompida pelo auto-riso. Mas o riso? Esse sim me perseguiu o dia inteiro. "Filho da puta" - pensei. "Devo tá com a maior cara de sacana apaixonado."

E ai constatei uma coisa interessante. Se escarras, será execrado. Mas se sorri, não importa sua índole, todos te darão bons créditos. E isso gera um ciclo de felicidade que chega a ser cansativo. Digo isso pelo repentino mal humor que acabo sentindo uma hora ou outra do dia. E ai, o cantarolar de logo cedo, logo se transforma num considerável número de resmungos sobre nada.

Será que seria melhor continuar a canção? Quiçá fizesse, esta continuidade, desaparecer o resmungar. Mas pensando bem, quase sempre o mal humor me recorda a benção da indiferença. Com a memória restaurada, indifiro-me a mim mesmo, e o riso retorna. E como uma memória tende a puxar outra, logo me recordo do dádivo sorriso de logo cedo.

Mas ai já são seis da tarde, e outras percepções me invadem, e ai, o sorriso ja é culpa sua...

3 comentários:

• Viviane Nascimento • disse...

O primeiro parágrafo podia ser melhor, mas o meio nao estraga o todo. Lindo =]

a disse...

"Tá com a maior cara de sacana apaixonado."

Sim, sim. Tanto você quanto o texto.

Nana Bastos disse...

nunca mais tinha passado aki.. ta cada vez melhor hein.. :)