(Pierrot)
No dedilhar desta viola,
O canto é teu, com estes olhos de menina
Serei teu Pierrot, doce Colombina
Que teima em alimentar essa tristeza que esfola!
(Colombina - Cabisbaixa)
Não desejo a ti estas eternas dores
Pois hoje, choras o rio que há de te afogar
Tu tens essa tez branca e esse triste caminhar
E eu, tenho divididos os meus ais de amores.
(Pierrot)
Pois deixe que me afogue o choro
Tenho mil esquinas para abraçar em consolo.
E iguais mil bebidas para inebriar... mas que tolo!
Pois a embriaguez se vai, e a tristeza volta em dobro.
(Colombina – Virando-se de costas)
Já não creio merecer
Esse teu chorar tristonho,
Esse teu tão belo sonho
Ou este dedicado bem-querer...
(Pierrot – Caindo de joelhos)
Não se vá, minha querida...
Pois o silêncio é doloroso!
A solidão me faz jazir desgostoso...
E me deixa aberto o peito em ferida!
(Colombina – Ajoelhando-se junto ao Pierrot)
Mas é a ti que meu coração chama.
É a tua alva tez que me palpita o peito,
É o teu poema que me soa perfeito...
E é o teu rosto que meu coração clama!
(Pierrot – Levantando-se cabisbaixo)
Ai de mim!
Sim, teu peito chama meu nome...
Mas o que faz com que eu me sinta como um estrume,
É o fato de teu corpo berrar por Arlequim...
(Colombina – Levantando-lhe a cabeça)
Não chores, meu belo Pierrot.
Pois a carne, que deseja o Arlequim
Um dia, morrerá enfim
E só sobrará em mim o teu amor!
(Pierrot – Choroso)
Ai de mim...
Pobre diabo!
Que fico aqui, como um coitado
Esperando este terrível fim!
(Silêncio breve)
(Pierrot – Com o dedo em riste)
Pois que seja assim!
Empunharei a minha faca
E, por minhas mãos, farei com que se faça
A morte deste terrível Arlequim!
(Colombina – Aterrorizada)
Então ensandeceste?
Não acabe com ambas as vidas,
Pois matando-o, também teria partida
Esta Colombina, ainda que em parte.
(Pierrot - Enfurecido)
Louco? Pois sim!
E tu, ainda defende-o com veemência!
Pois então, eu dou-o a minha clemência
E faço com que a lâmina mate a mim!
(Colombina – Chorosa)
Então, é posto que não me amas!
Pois se parte de mim
Não quer ver morto o Arlequim
Outra metade, sem ti, padeceria em chagas!
(Pierrot – Acovardando-se, ajoelhado)
(Colombina – Sentimental)
Devo ir-me agora, meu bem-amado
Voltaremos a nos ver em breve
Por enquanto, deixo-te com meu amor em greve
Para voltar antes do esperado...
(Pierrot – Alcançando uma garrafa)
Oh, amigo verdadeiro.
Tu, que nunca se vai assim
Tu, que sempre escuta os meus ‘ais de mim’
Se faça novamente companheiro!
2 comentários:
Já te disse que a melor parte é essa:
Pois deixe que me afogue o choro
Tenho mil esquinas para abraçar em consolo.
E iguais mil bebidas para inebriar... mas que tolo!
Pois a embriaguez se vai, e a tristeza volta em dobro.
Lindo demais, Bishinho! Obrigada a dedicatória, me vejo surpreendentemente nos três. Tão sereno como escreves, me tiras sempre um sorriso.
AI q eu me lembrei de tanta coisa agora... Deixa quieto!
lindo texto (:
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