terça-feira, 21 de abril de 2009

Selva de pedra

Diante de suas passarelas frias e amargas
E seus carros cada vez mais rápidos e esfumaçantes,
Com o grito travado e sufocante.
Já não vejo nas pessoas caras amigas... 

... Uma palavra escrita, apaixonante,
Brilhante, dita nas formas de antigamente... 

É bem tarde, mas não sinto o mormaço.
Nem o gelo que seus céus impõem.
Já não vejo, em meus olhos, cansaço.

E a dormência que minhas pernas sentem?
Evidência da vontade de seguir. 

E conforme essa vontade é sentida,
A realidade fica mais e mais fria!
A obrigatoriedade cadencia,
E a permanência se torna frígida.

O berro emudece,
Os braços e pernas enrijecem...
Dificulta o abraço, dificulta a partida.
Dificulta o falar, dificulta-me a vida! 

Já não olho mais pra cima, e abro os braços.
Para que o frio me adentre o corpo
Preencha-me as veias, exploda-me o peito! 

Já não me explode o coração.
Só remói, sintetiza o frio.
Impele a chuva tal qual expele a lágrima
Não me aquece, tampouco resfria 

E aquieto.
Deito, sinto falta
De uma mão quente,
De um pé frio...
De um sono tranqüilo,
De um sono acompanhado...
De um sono qualquer! 

Que me descanse os pés,
Que descansem os braços,
Descansem os ardores
Os amores, os desalentos... 

Que me faça acordado,
Que me remende as chagas
Que me faça espreguiçar

E caminhar, enfim.
Seguir, reestabelecer-me ao abraço
Dar de ombros à mera lembrança do cansaço

E recapitular os largos passos que dei.