- Psiu... Entra em silêncio, que “a coroa” ta dormindo.
Abre a porta com o cuidado de um policial anti-explosivo que examina uma bolsa deixada na calçada. Tira os sapatos antes e se desespera ao constatar que a acompanhante adentrara o recinto de salto alto.
- Tira isso, pelo amor de Deus... – Sussurra com cara de ódio.
O salto fazia mais barulho que um rojão de doze tiros. Eles ficam um tempo parados, pra deixar que o sono tome conta da velha de novo, e começam a entrar na sala completamente escura. Não se podia acender a luz, obviamente, pra manter em sigilo o que iria acontecer ali, em breve.
- Aiiiiiii, satanás! – Canelada na mesa de centro.
- (Risos abafados).
- Fica quieta!! – Sussurra o rapaz.
Quando eles já estão quase atingindo o esperado objetivo – o quarto do rapaz -, a garota diz:
- Preciso ir ao banheiro...
- Não acredito! Por que você não disse isso antes?
- Desculpa, só deu a vontade agora e...
- Ta, ta... Vamos voltar, e você vai no banheiro dos fundos. Não faz barulho, pelo amor de Deus...
No caminho pro banheiro, mais uma canelada na mesa de centro. Ela fica uma eternidade dentro do banheiro e, depois de finalizado seu trabalho, o barulho enlouquecedor da descarga. Ele fica desesperado, corre pra fechar a porta da cozinha e se bate numa cadeira, que derruba um “secador de pratos” cheio de talheres. O tilintar dos metais no chão desesperam o rapaz que se joga no chão a fim de abafar o barulho que já tinha se calado. Ele fica uns cinco minutos deitado, com a mão na cabeça, só esperando a mãe entrar com uma FAL na mão dando tiro pra tudo que é lado.
Vão voltando na ponta dos pés em direção ao quarto. Na passagem da sala, adivinha? Mais um encontro desesperador entre a canela e a maldita mesa de centro. “Dá pra acreditar nisso?”, ele pensa revoltado, olhando pra cara da menina. Ela, mais uma vez, coloca a mão, o vestido, uma almofada - que só Deus sabe onde ela encontrou - na boca pra abafar o riso. Ele coloca o indicador na frente da boca, pra sinalizar um silêncio pra ela. Quando chegam na porta do quarto dele, que é totalmente vulnerável à visão da mãe, caso esta levante, ele fala pra ela:
- Vou abrir a porta, e você entra rápido, viu?
- Mas é melhor você abrir devagar, não lembra que sua porta ta emperrada?
- Como é que você sabe disso?
- Naquele dia que eu vim aqui você...
- Você já... Esquece, anda logo antes que minha mãe acorde.
Abre a porta e eles entram no quarto. Uma paixão em fúria toma conta dos dois que, envoltos em um beijo interminável vão tateando o caminho até a cama. Nesse meio tempo é copo quebrado, derrubam uns porta-retratos, fazem um barulho terrível.
- Psiuu... Pára, pára. Calma, a gente não pode fazer tanto barulho assim!
- Cala a boca e vem logo.
E até a cama conspira contra os dois. É um tal de “nheque, nheque”, “toc, toc” (na parede), “ai minha cabeça” (na cabeceira) até que acaba tudo bem. Agora, é a maratona de volta até a saída.
- Se eu bater a canela naquela mesa de centro de novo, eu vou jogar ela pela janela.
A menina tem que se controlar desesperadamente para não explodir em riso. Vão voltando com o mesmo cuidado da entrada. Agora mais relaxados, com a pupila adaptada ao escuro, o que ajuda na missão. Ele faz de tudo pra evitar a mesa de centro. Faz tanto que nem se liga na outra mesa, a de jantar e... Esbarra com tudo nela. Pra terminar, a porta do quarto – que ele esqueceu aberta, claro – bate com o vento.
- Quem está ai? – ouve-se do quarto da mãe.
- Sou eu – responde o rapaz empurrando a moça para a porta.
- Você esta sozinho?
- Claro. – a coloca do lado de fora, da um beijinho, e faz sinal de que “liga amanhã”. Fecha a porta.
- E que calcinha é essa aqui no corredor?
Como é que isso foi parar ai, pelo amor de Deus?
Ele finge que não ouve e vai dormir. Amanhã, de cabeça fria, ele inventa uma mentira qualquer.
domingo, 26 de fevereiro de 2012
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Um comentário:
aehuhuaahuaehuaehuaehuaehuehu genial mano.
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