OBS: EU LIRICO EXISTE...
Eu não consigo mais falar. Gritar, esbravejar, urrar as dores deste mundo cego, que cada vez mais fraqueja, sem voz para gritar aos surdos... A minha garganta se fecha, como se fecham as portas do sempre crescente individualismo retórico e obrigatório destes amargos muros, que aludem aos meus olhos. Eu já não consigo mais enxergar... E aqui jaz até o frio escuro dessa solidão fúnebre. Eu já não consigo mais sentir...
Eu já não posso mais olhar. Ter as unhas cravadas na pele da culpa que me leva como cavalo manso, num cabresto apertado. Culpa, que me sequestra a fome que nunca senti, e a empresta a alguém, que de tão próximo, se torna até comum. Eu já não tenho compreensão...
Dolorosa compreensão de que a ignorância nos faz felizes. Dolorosa compreensão de que a liberdade é cada vez mais utópica, e que a escravidão é eterna... Dolorosa, é a compreensão de que lhe ditam burocracias estúpidas a ponto de te fazer cada vez mais refém, e cada vez mais culpado por se tornar refém...
Doloroso, é se sentir mal em querer ser diferente. É ter, estigmatizado em sua carga, o conceito de rebelde sem causa, como se a causa real fosse se tornar tão escravo quanto se tornaram aqueles que nos cercam. Doloroso, é ver deturpar-se todo e qualquer conceito, em prol de um outro conceito que é escravista e desumano; que é concentrativo e exclusivo, que futiliza todos os demais conceitos em torno de sí, e de seu acúmulo cada vez mais doentio...
Doloroso é esperar que a morte traga a esperada redenção que essa vida não foi competente em trazer. É sentir morrer minha criatividade, pois a criação sem lucro já não é mais válida... Pior! É sentir que tenho preferido que esvaia-se a criação, pois não quero que ela perca seu sentido se tornando mais um produto podre desse mundo que gira em torno de um senhor cada vez mais destrutivo...
E dói tanto saber que é tão fútil o motivo de tamanha destruição, dói tanto perceber que sou cúmplice disso, pelo simples fato de caminhar por esse chão, que eu simplesmente não consigo mais escrever...
O amor ganhou uma data. As mães, os pais, os avós, as crianças, e tantas outras coisas mais, que o capitalismo te agradece por ser tão cego.
É aqui que peço emprestada a lâmina fria, que logo se esquentará com o sangue de meus pulsos, sedentos pela libertação da carne, frágil. Me despeço com um grande Adeus.
(Quisera eu ter essa coragem, mas ela também já me falta)...
4 comentários:
Do caralho!
Porra, Rafael.
Porra!
Rapaz, divido com você essa angústia da pela criatividade que resiste a qualquer força de convocação. A poesia é inerente a vontade, a criatividade tem personalidade própria, só nos vem quando buscamos qualquer aspecto obscuro sobre qualquer coisa banal.
você é f-o-d-a.
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