segunda-feira, 28 de junho de 2010

Cicuta deglutida (ou Carta ao Anjo da Morte)

Paciência...
Séculos de inércia ideológica
Décadas de perda da lógica
Indiferença...

Interferir é modificar
Beber o cálice forte da responsabilidade
Dar-se a dura penalidade
De participar

E sentir a respiração da esquizofrenia...
O toque, o beijo, a presença
Sentir o frio da treva que abraça...
Agonia

(O sussurro arrepia)
Ele aparece no canto. Sua montaria, arredia, dá coices
Ele desmonta, e aproxima sua foice
Aquela foice tão fria...

...Corta-me o rosto.
A dor, o gosto de sangue, o cheiro...
As memórias que espremem por inteiro
Todo o meu esgoto...

O medo
Tem um cheiro estranho
A loucura associada me faz berrar... acanho
Imagens, memórias dolorosas, tremor alucinado...

A foice é erguida...
E mais um corte se segue...
Sangue...
Comida.

Vários estão ajoelhados aos meus pés...
Não buscam, porém, meu perdão...
Ou minha ordem, ou redenção...
Não buscam minha sorte, ou meu revés...

Corte
Vermelho
Mais verdades duras no meu espelho
Energia mais forte

Ele, ainda a minha frente, se põe ereto
Foice em punho, sangue que jorra
Seres indo à forra
Deleitando-se no meu leito...

Já não estou mais sozinho...
Há, agora, quem se banhe nesse meu sangue preso
Já não me sinto mais indefeso
Eu já entrevejo meu caminho

Ele me olha...
Aquele olhar pesado...
Anjo... quão grande é seu fardo!
Eu já não tenho escolha...

Foice sobe...
Momento de excitação geral
Meu sangue, alimentando aquele sexo grupal
É assim, eu sempre soube...

Fecho os olhos
Já não vejo o bacanal
O barulho, é de ar cortado por metal
Foice desce, fim dos sonhos.





Um comentário:

Mariacd disse...

criativo, sério, doce e sonhador. Bem você. ;)