quinta-feira, 21 de maio de 2009

Teimosia

O sapo pula, teimoso.
Mesmo vendo seca a lagoa.
Mas ele pula, olha e entoa
Seus cânticos surdos; de amor ou de remorso?

E berra, berra, berra...
E pula, levanta poeira,
Como está morta, a antes farta beira?
Como se impõe a secura que enterra...

Ante a solitude, tende a aquietar-se
Calar o berro, cessar o pulo
Por mais que teime, seu cântico agora é nulo
Faz-se sofrível, ante a catarse.

Mas ele pula, e berra, e faz firula
O lago, indefere ao seu esforço
Ainda assim, ele insiste em pular, teimoso...
Quer mostrar ao lago a vida; por isso pula!

O lago, cada vez mais seco
Chega a querer que se cessem os pulos
Se envenena, com o que há de mais pútrefo
Para que o sapo desista do seu leito...

E, talvez, não tenha jeito
O sapo, ainda pula teimoso
Tenta, a muito custo, animar o lago desgostoso
Que vê na secura, seu álibi perfeito.

Um comentário:

a disse...

é que além de querer mostrar ao lago a vida, ele não quer deixar de se sentir vivo ;)