Sábado a tarde. A porta da casa da namorada – ou ex namorada? – acaba de se fechar, fazendo imenso barulho. Sua ultima memória é a de estar no sofá, ela falava algo que seus ouvidos não captavam, e ele tinha os olhos vidrados no televisor. Ah, o televisor! Um Palmeiras e Corinthians passava diante daqueles apaixonados olhos, naquelas indescritíveis quarenta e duas polegadas de plasma. Não só atiçavam aos olhos, vale a ressalva. Todo um sistema de som angulava tudo para que eu estivesse completamente embebido na partida. Resultado? Tudo o que uma mulher mais detesta: Não ser o centro das atenções.
Pra o homem, tudo o que ele fez foi colocar o seu amor à prova. Tudo bem que o foco não era exatamente ela, mas o seu amor estava ali. Todas as suas células tinham o único objetivo de sentir cada movimento, cada respiração, cada grito, cada gol! GOOOL! Recorda-se de ter berrado desesperadamente, pulando, beijando-a apaixonadamente, dizendo-lhe que a amava e... Ela estava chorando. “Meu Deus, por quê?”. Essa pergunta martelou-lhe o juízo por algumas horas a fio. Irrespondível pergunta. Resultado? Gritos, insultos, acusações de insensibilidade, lagrimas, lagrimas, lagrimas... Incontáveis lágrimas.
- Você está nervosa, ta “naqueles dias”? – Pergunta inocentemente, buscando uma resposta para aquela barbárie instalada.
Pronto. De repente, ativa-se alguma espécie de código que faz com que as mulheres percam qualquer lucidez que ainda se faça num momento de cólera. Parece que, por algum motivo, as mulheres defendem veementemente o direito de ficarem nervosas, sem culpar o seu ciclo menstrual. Pronto... A porta bate às suas costas. Ele vai, de cabeça fervente, andando pela rua, quando o celular toca. Se ele tivesse apenas uma chance de prever o porvir, teria atirado o maldito fone embaixo do primeiro ônibus que passasse. Atende à maldita ligação:
- Fala Pedrosa.
- E ai, meu ‘brother’. Planos para hoje?
- Rapaz, acabei de sair da casa da figura aqui...
E ai, se segue o diálogo em que se explica todo o ocorrido e, o mais importante, em que há a ação do Satanás na vida de qualquer homem recém saído de uma briga em casal; o convite a uma festa. Que fique claro que eu não desejo, de forma alguma, dar razão a qualquer fato que se suceda. O que aqui descrevo, são apenas fatos, como vocês hão de concordar.
O diabo da festa se faz. O homem, completamente desentendido, conversa com o amigo, afim de que, juntos, eles possam analisar e compreender a atitude tomada pela mulher, horas antes. Ainda abalado, ele, na frustração de não encontrar compreensão – visto que, em sua mente, ele nada fez, a não ser assistir a um inocente jogo na casa da namorada -, começa a bebericar uma mistura alcoólica, levemente adocicada e de fácil degustação. Uma dose segue outra, que traz mais uma, e outra, e em questão de poucas horas, o rapaz está completamente embriagado. Neste exato momento, mas uma ação demoníaca, sua música favorita começa a tocar. É uma música alegre, dos tempos em que ele era solteiro e... Ele começa a recordar-se de tais tempos. A briga começa levemente a adormecer em seu cérebro, e aquela sensação nostálgica levanta-o da cadeira.
E ele começa, ainda que timidamente, a ensaiar alguns passos. “Pra-la-pra-ca”. O álcool vai destruindo a timidez e... Em muito pouco tempo ele está no meio da pista de dança se divertindo como há muito tempo não se divertia.
Então o inevitável acontece. Em mais uma ação, o Diabo coloca na frente do rapaz aquela moça linda, solteira, enlouquecida – provavelmente pelo uso de alguma substancia psicoativa – e os seus olhos se encontram. Ele, bêbado e magoado. Ela, louca e solteira. Pronto. Nem duas palavras se trocam antes que seja impossível a identificação de quaisquer daqueles seres. Suas bocas se tocam desesperadamente, alucinadamente, como se fosse um asmático em busca do último sopro de ar. Beijam-se por mais alguns segundos, antes que ele acorde numa cama, completamente nu, e sem memórias aparentes sobre os últimos acontecimentos.
Repentinamente, algo se move do seu lado. O susto pela presença só é vencido pelo assombro pela recordação, que volta vagarosamente. Ele olha em volta, na tentativa de reconhecer o local em que se encontra. Era o seu quarto. De um salto, ele levanta-se já alcançando o jeans e vestindo-o enquanto busca a camisa. Em questões de segundos, ele está completamente vestido e acordando a moça. Fala-lhe que cometera um erro terrível, que, caso ela ainda não soubesse, ele tinha uma namorada, etc, etc... Sua acompanhante demora-se a entender, mas... Dá de ombros a tudo, veste-se e vai embora. Ele nunca mais a veria novamente. Precisava agora ligar para o amigo, para que juntos pudessem pensar em algo para encobrir a traição. Encontra-se com o comparsa, lamenta-se da besteira, fala que está arrependido - nota: a maioria dos homens se arrepende, sim. Na primeira vez, pelo menos. -, e que vai em busca da amada. contá-la a verdade, dizer que foi um erro...
- Não faça isso jamais! – Os olhos esbugalham-se desesperados tentando dissuadir o imbecil de cometer o maior erro de sua vida, em tese.
E ai segue a falácia do amigo, demonstrando por provas e mais provas que uma mulher jamais aceita ser trocada, que contar a verdade só a magoaria, e bla, bla, bla... Consegue, enfim, depois de muito falar, tirar a idéia absurda da cabeça do amigo. Mesmo assim, adverte-lhe a ir em busca da namorada, afim de sondá-la. Perceber o terreno, ver se ela descobriu e; se sim, negar a todo custo, se não, levariam o segredo ao túmulo!
Chega ao seu destino. Chama-a à porta, adentra o recinto e a percebe ainda mal humorada. “Deve ser ainda pela briga de ontem”, pensa inocentemente. E ai, resolve partir para o perdão pela tal briga de ontem. Pede perdão, diz que sente muito, que ele é um insensível mesmo... tudo o que sempre funciona com as mulheres, mas ela está estranhamente calma.
- Você saiu ontem? – Pergunta a namorada.
Fudeu. É o primeiro pensamento do cara, que gagueja, sua, treme, olha pro teto, pra janela, levanta, abre a janela, vai na cozinha, bebe água, volta, fecha a janela, senta, reclama do calor, levanta, abre a janela, e, enfim, responde-lhe que ‘foi tomar um chopinho com o Pedrosa’.
- Você ‘foi-tomar-um-chopinho-com-o-pedrosa’? Só isso?
Agora sim, fudeu. A sudorese aumenta, ele sente dor de barriga, vontade de vomitar... Até que lembra das palavras do amigo: “Negue até a morte.” E continua dizendo que sim, fora apenas tomar um chopp inocente com seu amigo.
- Ah, é? – Indaga-lhe ameaçadora. – E o que significa isso aqui?
Só o demônio sabe de onde ela tirara uma foto “Polaroid” que algum desocupado tirara na festa. Era ele no famoso flagrante, deliciando-se nos lábios da colega de horas atrás. Ele fica uns dez a doze minutos olhando a foto, quando ela profere as ultimas palavras, que agora ele já não escuta, por diferentes motivos. Ele refaz todos os rostos possíveis de se refazer na festa e ainda não crê no que vê.
- Ela é prima de uma amiga da vizinha do cabeleireiro da minha prima, que, por acaso, estava na festa.
E, novamente, ouve-se o som da porta batendo no fundo.
segunda-feira, 6 de abril de 2009
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5 comentários:
Hahah! Que clichê!
Não me identifico, mas a sua cara.
Um dos clichês mais legais que já li nos meus ultimos tempos.
esse ai se fudeu!
ô coitado....... pior q conheço bem uns 30 desses! =x
bjonaosaiacompedrosa!
Diabo é
esse amigo.
Satanás dos inferno...
rimuito.
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