sexta-feira, 4 de abril de 2008

Mais um grito de desabafo.


Eu me acho um ser indiscutivelmente anti-atrativo. É... anti-atrativo mesmo. Sinceramente falando, acho que o que é interessante sobre mim, é exatamente o fato de eu ser assim. Perdi os filtros que deveriam existir entre o meu cérebro e a minha boca. Por isso, as vezes vejo pessoas saindo de perto de mim por alguma besteira que eu disse.

Geralmente, eu agradeço a algum elogio proferido a mim. Mas eu me acho um ser tão chato que, as vezes os elogios funcionam como uma bomba-relógio. Vez ou outra, então, eu estouro palavras de reprovação a esses mesmos elogios. Isso por que a maioria das belas palavras me soam meramente afetivas. Meramente palavras de gratidão. Seja por que eu vez ou outra elogio as pessoas que me cercam, tendo sempre a verdade como parâmetro, ou por que eu disse alguma bobagem que alguém queria muito ouvir... Ganho lá um tapinha nas costas, um abraço e um obrigado (a), e a vida continua. Para ambos.

A maioria das pessoas nem me conhecem. Deve ter um ou outro doido que faça uma leitura sobre mim, e ainda um mais seleto louco que goste do que vê. Mas eu acho que a maior parte das pessoas até se assusta quando conversam comigo. Chego a me divertir ao ver os olhares, principalmente femininos, quando no desenrolar de uma conversa eu largo lá um palavrão – que provavelmente ela nunca escutou na vida – ou quando relato alguma experiência louca da minha vida.

Um ou outro amigo ainda se irrita quando eu digo isso. Dizem não aceitar meu “complexo de inferioridade”, ou o meu “dom de me colocar ‘la em baixo’”. Em baixo de onde, penso eu. Não julgo inferioridade não pertencer à um padrão físico-intelectual, ou ainda de ser discordante da maioria das coisas que acontecem atualmente. Graças à diferença, o mundo tem graça. O que é incrível é essa coragem necessária para ser diferente. Todos te apontam, as pessoas não te levam a sério, mas... na cabeça de todo mundo alguém tem que ser o diferencial. Eu tenho coragem para sê-lo.

Já percebi diversas vezes a relutância de diversas pessoas em conversar comigo. Já percebi também o julgamento dessas mesmas diversas pessoas...

- Nossa... Você não tem cara de quem escreve assim.

- Eh... eu ouço isso bastante...

- ...

Mas isso não se aplica somente a minha escrita.

- Você vai assim, de sandália mesmo?

- Vou sim... é como eu me sinto bem.

- Então eu acho que vou de sandália também... E se não puder entrar?

- Se não puder, eu volto.

O final é obvio, geralmente eu sou o único que sai de sandálias, bermuda e camiseta.

- Já não sabe que Rafael gosta de chamar a atenção?

Quase nunca há resposta do meu lado. Prefiro deixar que cada um pense o que quiser ao meu respeito. Não gosto do fato de que o pensamento é moldável, portanto eu não o moldo. No mais, eu acho que sou muito parecido com vocês;

Adoro o cheiro de chuva. Ou melhor, o cheiro de terra molhada que a chuva geralmente proporciona. Eu me lembro da minha infância e isso geralmente me traz lágrimas. Coisas simples provavelmente me farão feliz por muito tempo. Uma roseira pode me fazer ganhar o dia. A pouca diferença é que, pra maioria das pessoas, o visual importa muito. Para mim, diferentemente, o que apetece mais é o som. O som de uma árvore, o som de um dia nascendo, o som de Miles Davis...

O som do sentimento. O som do mar, que teima em beijar as pedras. O som do coração do meu pai, que ouço quando, raramente, o abraço. O som das vozes das pessoas, que conversam juntas, riem... o som da alegria, enfim. As vezes, passo horas de olhos fechados, sem dormir, apenas escutando o que se passa a minha volta.

Detesto presentes obrigados. Detesto datas comemorativas. Elas destroem o sentido de presentear. Prefiro ganhar uma flor, um desenho, uma pedra, que seja, num dia qualquer, a ganhar uma televisão de plasma no Natal.

Eu tenho dificuldade de admitir que o amor exista. Isso por que eu não consigo enxergá-lo. O mundo está muito pragmático, você só é aceito em qualquer meio se puder dar algo em troca à esse meio. Perdeu-se o sentido de amar, perdeu-se o sentido de perdoar.

Enfim, estamos perdendo o sentido de viver.

E isso me amedronta muito.

Um comentário:

Unknown disse...

E mais uma vez, você me encanta com a breve colocação de palavras simples.
Surpresa? não... num sei o porquê, mas o teu eu implícito no texto acima, era exatamente o Rafael que eu dizia conhecer! O típico orgulhoso, mas uma pessoa sensacional... que se encanta com as coisas simples da vida, que tem um coração grande, e está sempre disposto a ajudar quem realmente vale algum humilde vintém pra você, sempre tem a palavra certa, geralmente não a que a gente quer ouvir, mas com certeza a que mostra a realidade dos fatos. E é só por isso que eu gosto tanto de você e admiro a pessoa Rafael. Assim, de bermudas e sandálias.